O Centro de Humanidades

Um dos princípios que foram propostos oficialmente com a Reforma Universitária, após a Ditadura, foi o de concentração das atividades de formação profissional por áreas de conhecimento, relacionadas com o princípio de não duplicação de meios para fins idênticos ou semelhantes. Essa racionalidade tecnocrática passa a ser representada na UFC, já em 1968, com o Decreto nº 62.279, de 20 de Fevereiro de 1968, que reestrutura a Universidade Federal do Ceará a partir de Centros, agregações de Faculdades e Institutos relacionados a uma área do conhecimento. A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras foi desmembrada nas Faculdades de Ciências Sociais e Filosofia, Faculdade de Educação e Faculdade de Letras. A Faculdade de Educação passa a compor o Centro de Estudos Sociais Aplicados, junto com a Faculdade de Direito e a Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas (atual FEAAC). O Centro de Humanidades integrou as demais unidades, somando-se também a Faculdade de Artes e Arquitetura, que substituiu a Escola de Arquitetura.
Os Conselhos de Centro eram presididos por Decanos, sendo o primeiro do CH o Prof. Pe. Francisco Batista Luz, antigo diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (1962 – 1969) e diretor da Faculdade de Letras (1969 – 1970), que fica no cargo até 1970. O Centro de Humanidades permanece nessa configuração até 1973, quando na fase final da Reforma Universitária se instala o sistema de departamentos que já vinha se desenhando desde 1961. Extinguiu-se o caráter inter-escolar do Conselho, com a criação do Conselho Departamental, sendo eliminado o nível de Escolas, Institutos e Faculdades, favorecendo a centralização das funções administrativas e pedagógicas. O Centro de Humanidades era composto, em 1973, pelos Departamentos de Comunicação Social e Biblioteconomia, Ciências Sociais e Filosofia, Letras Vernáculas e Letras Estrangeiras. O curso de Arquitetura deixou de ser vinculado ao CH e o Departamento de Arquitetura e Urbanismo, criado na época, passou a integrar o Centro de Tecnologia. A área de artes da extinta Faculdade de Artes e Arquitetura, contudo, continuou vinculada ao CH.
O sistema de Ciclos (Básico e Profissional) foi reorganizado com o fim da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, ganhando sua forma fundamental em 1973, sendo estruturado a partir dos Centros de Humanidades e de Ciências, cada uma com uma lista de disciplinas específicas. Em 1973, o Ciclo era composto pelas seguintes disciplinas: HSL010 – Introdução à Sociologia, HSL027 – Introdução à Psicologia, HSL043 – Introdução à Filosofia, HLV001 – Língua Portuguesa I, HLV002 – Língua Portuguesa II (pr. Língua Portuguesa I), ETE001 – Introdução à Economia, EPB001 – Introdução ao Estudo do Direito, EED001 – Introdução à Educação. Cada estudante deveria perfazer 48 créditos a partir dessa lista, a depender do curso que o estudante pretendesse cursar o Ciclo Profissional. As atividades do 1º Ciclo incluíam seminários e orientações vocacionais, havendo inclusive a figura de professores-orientadores. O 1º Ciclo do Centro de Humanidades era ministrado onde hoje é a terceira área do CH (CH3).
A constituição do CH marca uma mudança importante no ensino e na pesquisa das Humanidades. Consolidou-se a área de estudos, em especial com a consolidação da pós-graduação nas universidades brasileiras nas décadas de 1970 e 1980, ao mesmo tempo em que se forma uma base profissional. Além disso, com a transferência incompleta do campus universitário para o Pici, as Humanidades passaram a se estruturar fisicamente em espaço próprio onde os cursos puderam se expandir e se instalar, dando identidade física a estrutura acadêmica da área.
Todavia, o tom tecnocrático da Reforma Universitária, a ênfase na profissionalização despolitizada e a repressão política foram também marcas fundamentais na criação e na instalação do CH. As Humanidades como área o conhecimento na UFC, após a Faculdade de Filosofia, estruturam-se diretamente vinculadas às repressivas políticas educacionais da Ditadura. Se a luta contra o Regime passa ser um algo que se integra a identidade do Centro de Humanidades por esse mesmo motivo, por outro lado, cabe ao presente pensar nas cicatrizes e heranças deixadas por esse passado.
Os sistema de créditos e o Ciclo Básico, por exemplo, apesar de serem parte do projeto da Reforma Universitária desde antes da Ditadura ficaram marcados pela maneira que foram instalados pelo Regime. Se, por um lado, eles permitiram a flexibilização curricular e contribuíram para o fim do sistema de cátedras, são lembrados por terem favorecido a dispersão das turmas no período e enfraquecido o movimento estudantil, já debilitado pelo fim dos diretórios e centros acadêmicos a partir de 1968. Atrelados a política de despolitização da formação acadêmica do Regime, eles são lembrados por terem estimulado uma identidade acadêmica mais voltada para o sucesso profissional do que para a solução compartilhada de problemas nacionais. Com relação ao Ciclo Básico o impacto da Ditadura é ainda mais claro: a repressão impediu os próprios objetivos da medida, que deixou de existir nas Universidades com o fim do Regime – estimular o pensamento crítico e a disciplina mental entre os recém ingressos, sanando as dificuldades e recuperando as insuficiências entre os estudantes recém ingressos, assim como integrando os estudantes na vida comunitária da Universidade.