Reforma Universitária
e Faculdade
de Filosofia do Ceará

A grande realização da gestão do professor Valnir Chagas no Departamento de Educação e Cultura da Universidade do Ceará foi a criação dos Seminários dos Professores, que consistiam no planejamento participativo da Universidade, realizado a partir da discussão dos professores sobre pautas chave como o que era a Universidade do Ceará, qual era sua missão e qual o seu programa de desenvolvimento.
O I Seminário foi realizado em 1959, tendo como objetivo traçar uma filosofia universitária para a instituição, que passou a ser definida pelo princípio geral de “evoluir do e para o universal, pelo regional”. Síntese do pensamento nacional-desenvolvimentista que pautou a Universidade em seus primeiros dez anos, a ideia era uma universidade que promovesse o saber universal por meio do estudo das condições de vida e existência do homem e da natureza do Nordeste, promovendo, por fim, o desenvolvimento regional. A Universidade era, portanto, um local privilegiado de realização do nacional, pois o Brasil (em especial o Nordeste) seria criado e desenvolvido pelo ato mesmo de conhecê-lo, realizando suas potencialidades no próprio processo de (re)descobrimento.
O II Seminário (1960) tentou partir dessa filosofia para chegar a uma política universitária, coroando a formulação da missão com um projeto de desenvolvimento. Foi formulado, então, o Planejamento para Seis Anos (1961 – 1966), com o objetivo de iniciar a realização da filosofia universitária proposta no Seminário anterior. Pretendia-se combater a dispersão das atividades pedagógicas, típicas das universidades brasileiras, racionalizando os recursos e uma vivência universitária não corporativizada pelo isolamento em Faculdades e Escolas. Ao mesmo tempo, era necessário superar o bacharelismo na produção de uma nova elite intelectual. Se a formação de novos quadros técnicos para o desenvolvimento da nação era prioritário, a Universidade não podia realizar sua missão nacionalizadora sem se tornar também um centro de produção do saber científico e cultural. Da mesma forma, a Universidade não era vista isolada de seu meio, mas realizadora de seus potenciais, devendo se debruçar sobre sua realidade, modificando-a e guiando seus caminhos. O que se propunha era, portanto, uma Universidade pautada no tripé ensino, pesquisa e extensão, possibilitado pela criação de um espírito universitário autenticamente nacional.
O III Seminário foi realizado em 1961 e teve como principal ação começar a reformulação do Estatuto da Universidade a partir dos princípios e das deliberações dos dois antecessores. Uma das grandes marcas do Seminário do novo Estatuto foi a tentativa de esboçar já um sistema departamental na Universidade que abrisse brechas no sistema de cátedras ainda vigente, assim como criar um sistema de ensino e pesquisa pautada em uma fase básica e outra profissionalizante e aplicada.
As grandes transformações estruturais propostas pelos seminários podem ser resumidas em duas de suas mais importantes propostas. A primeira seria a construção de um ciclo básico de ensino, precedente à etapa profissionalizante dos cursos e centralizado em uma Escola central voltada para a pesquisa básica. A segunda seria a instalação do Ano Vestibular, estendendo o processo de seleção dos novos candidatos para a Universidade por um ano inteiro, sendo abolido o concurso de habilitação, substituído para um processo contínuo de análise das reais potencialidades dos candidatos e pautado na compreensão do cotidiano e da produção do conhecimento na universidade, assim como em orientações vocacionais.
As duas propostas eram complementares, pois o Ano Vestibular precederia o ciclo básico, fechando o período de transição entre o ensino secundário e a profissionalização. A execução dessas medidas seria pensada e aplicada a partir da mesma Escola: a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, criada em 1961. Se a segunda proposta nunca vingou, sendo mantido o concurso de habilitação tradicional, o vestibular, a primeira, não somente foi instalada como deu origem a vários cursos e departamentos existentes até hoje na Universidade. Sua proposta era ser o núcleo a partir do qual a Universidade se reformaria, sendo responsável pelo ciclo básico e pela formação do espírito universitário. Se a Universidade era a busca do Universal pelo Regional, era na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras que a cultura regional (entendida como o produto da relação entre a natureza humana e o ambiente em que este se realizaria era processada em cultura universal.